sábado, 20 de julho de 2013

Questões sobre a Arte de Amar, Os Campos Perfumados, Philobiblon e Divina Comédia

A Arte de Amar, de Ovídio

Neste primeiro livro de A arte de amar Ovídio oferece orientações ao homem que deseja conquistar uma mulher (solteira ou casada) na sociedade romana. Comente alguns dos conselhos que ele apresenta.

Ovídio traz uma série de conselhos e dicas em uma espécie de manual da vida amorosa de um homem romano. Abaixo estão alguns deles.

PLANO

Antes de começar a das seus conselhos, Ovídio recomenda que o homem escolha um 'alvo' para focar suas ações a fim de fazer ceder a mulher que o agrada:
"Antes de mais, o que quiseres amar, trata de procurá-lo, tu que acabas de entrar, feito soldado, em exército novo; logo depois, hás de empenhar-te em fazer ceder aquela que te agradou;"
PROCURA

Aqui, Ovídio comenta a arte de procurar mulheres, fazendo uma analogia com o ato de caçar:
"Conhece bem p caçador em que lugares há de aos veados estender as redes; conhece bem por que vales vagueia o javali, de dentes afiados; são conhecidos dos passarinheiros os arbustos; aquele que arma o anzol conhece as águas onde nadam os maiores cardumes; assim também tu, que buscas matéria para um amor duradouro, aprende, primeiro, em que lugares abundam as mulheres."
Segundo Ovídio, Roma é farta em mulheres para variados desejos:
"A ti, porém, tantas e tão formosas mulheres de dará Roma, que hás de dizer: 'Esta cidade possui quanto no mundo foi criado' ".
LUGARES DA SEDUÇÃO

Nesta seção, Ovídio comenta sobre os lugares onde pode ocorrer a sedução e mulheres podem ser levadas a fim de que se proceda o cortejo.
"Basta passeares com vagar à sombra do pórtico de Pompeu, no tempo em que o sol avança sobre as costas do leão de Hércules…"
Inclusive, Ovídio fala sobre os diferentes tipos de amor encontrado em lugares específicos:
"Mas tu dedica-te à caça em especial nas arcadas dos teatros; aí vais descobrir o que amar, o que podes usar por diversão, o que tocarás uma vez, o que quiseres guardar por mais tempo."
Assim, Ovídio continua abordando diversos tópicos úteis para o homem romano se dar bem na vida amorosa. Entre estas seções estão: Os Jogos, O Circo, Encenação de um combate naval, Cortejo Triunfal, O Banquete, Outros Lugares, A Sedução, A Mulher e o Desejo, A Paixão Feminina, Seduzir a Criada, A Ocasião, Cartas de Amor, A Arte da Palavra, A Beleza Masculina, O Vinho, Fingimento e Lisonja, Juras e Promessas, entre outros.

Os Campos Perfumados, de Muhammad Al-Nafzawi

Ainda que Os Campos Perfumados, redigido por Muhammad al-Nafzawi no séc. XV, período próspero na Tunísia, tenha sido com frequência recebido no Ocidente como uma obra "erótica", René Khawam, autor do prefácio que acompanha a edição brasileira, chama a atenção para a importância da "matéria médica" e das observações psicológicas e sociais na estruturação do texto, um "livro de educação pelo exemplo". Em sua opinião, é possível encontrar no trecho lido exemplos, elementos que corroborem o ponto de vista de Khawam?

Na minha opinião estes elementos existem, uma vez que o texto tem caráter científico mesmo trazendo informações obtidas empiricamente, como esta:
"Com efeito, as mulheres desejam encontrar em seu parceiro, por ocasião da cópula, um aparelho de boas dimensões, cujo gozo se estenda ao longo do tempo."
Considero estas assertivas meras constatações de um conhecimento que o autor obteve provavelmente por observação ou experiência vivida.

Ainda, Muhammad Al-Nafzawi traz informações úteis que podem ser utilizadas de forma educativa, como o fato de usar perfumes para supostamente ter uma cópula de maior qualidade:
"A utilização dos perfumes para os homens e para as mulheres ajuda a cópula e a multiplica. Quando a mulher sente o cheiro do perfume no corpo do homem, ela se distende de maneira completa."
Portanto, não considero o texto uma obra erótica, mesmo que o tema abordado seja o sexo.

Philobiblon, de Richard De Bury

O reverendo Richard de Bury publicou, em 1344, o Philobiblon, uma verdadeira declaração de amor aos livros e à cultura letrada. O capítulo que lemos, o IX, intitula-se "De como os antigos estudantes eram superiores aos atuais em fervor discente". Por que, afinal, na opinião de Bury, eram esses antigos estudantes superiores em "fervor discente"?

Para Richard De Bury, o ardor por aprender dos antepassados era muito maior do que o de seus contemporâneos, uma vez que estes "consagravam a sua vida inteira [aos estudos], enquanto que nossos contemporâneos passam os fecundos anos de sua juventude dominados pelo vício."

O autor cita como causa deste desinteresse dos discentes de sua época pelo aprender e os estudos a preferência às "fumegantes obrigações da juventude" frente a qualquer dificuldade encontrada. Além disso, a ambição é destacada como outro fator que desvia os jovens de pesquisas e estudos profundos.

Divina Comédia, de Dante Alighieri Canto IV

Os termos em que o legado da Antiguidade Pagã deveria ser incorporado pelo Cristianismo foram motivo de grandes debates desde os primórdios da Igreja. No famoso Canto IV do Inferno, Dante apresenta sua própria "solução" para esse impasse. De que forma Dante incorpora grandes figuras pagãs a um mundo cristão nesse canto? Que figuras o narrador, Dante, parece ali admirar mais?

Nos versos de Dante, os grandes nomes da Antiguidade pagã, virtuosos que não podem ser beatificados por não terem recebido o batismo, habitam um nobre castelo em uma região situada nas bordas do inferno, chamada de limbo. E esta é a "solução" de Dante para o impasse referido na pergunta, estes grandes vultos da antiguidade pagã não sofreram nenhum tipo de pena, mas também não obtiveram o direito de ir ao paraíso, como Virgílio diz a Dante:
Meu Mestre a mim: "Não te ouço perguntar
que espíritos são esses que tu vês:
eles, te explico antes de mais andar,

não pecaram, mas não têm validez,
sem batismo, seus méritos, e isto
faz parte dessa fé na qual tu crês;

e os que tenham vivido antes de Cristo
não adoraram Deus devidamente,
e eu dessa condição também consisto.
As figuras que Dante enfatiza como grandes sábios, além de Virgílio e de si mesmo são: Homero, Horácio, Ovídio e Lucano. Como podemos observar nos seguintes versos:
logo ouvi do guia a chamada:
"Olha o que vem à frente qual decano
dos outros três, segurando uma espada;

ele é Homero, poeta soberano;
o satírico Horácio junto vem,
terceiro é Ovídio e último Lucano."