Satã é retratado no texto como um ser que vive em profunda desgraça, muito confuso e vivendo um grande remorso pelo castigo que recebeu:
"O horror medonho, a dúvida terrível,Confundem-lhe os turbados pensamentosQue lhe acendem o Inferno dentro d’alma:O Inferno traz em si, de si em torno;Não pode um passo dar fora do Inferno,Porque, onde quer que vá, leva-o consigo!Remordida a consciência lhe despertaA desesperação que dormitava;Desperta-lhe a lembrança desabridaDo muito que já foi, do que é agora,Do que há de ser, a pior sempre indo tudo:Crescendo as obras más, cresce o castigo."Satã demonstra aborrecimento ao voltar-se para o Sol e recordar do paraíso de onde foi banido.
"Porém sim articulo, ó Sol, teu nomePara te assegurar quanto aborreçoTua luz que à lembrança me recordaO ledo estado de que fui banido!"Mesmo tão amargurado, é interessante observar, a partir do trecho seguinte, que Satã se arrepende de sua desgraça e de certo modo põe culpa em Deus por ter lhe dados muitos poderes, incitando sua ambição e ganância. Sentimentos que acabaram lhe custando caro.
"Onde há ônus aqui? Feliz eu fora,Se o poderoso Deus me houvesse feitoDe inferior jerarquia um simples anjo!Assim nunca esperança desmedidaMe ateara da ambição o horrendo fogo!"Contudo, Satã é muito orgulhoso, e mesmo sentindo algo parecido com arrependimento, jamais pediria perdão e voltaria a ser submisso a Deus.
"Ai de mim! que afinal ceder me cumpre!E como hei de mostrar que me arrependo?Por que modo o perdão obter eu posso?Só pela submissão... Palavra horrível!Meu nobre orgulho atira-te bem longe,Repele-te a vergonha que eu sentira."Por fim, mesmo considerando a hipótese de voltar ao seu estado original, Satã aceita sua própria natureza como imutável, e assume que não teria grandeza neste cenário.
"Inda mais: — se eu pudesse arrepender-meOu, por decreto da divina graça,Alcançar meu estado primitivo,Logo essa elevação em mim ergueraPensamentos de orgulho que anulassemQuanto jurara submissão fingida:Anularia a prístina grandeza"
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