terça-feira, 28 de maio de 2013

Péricles e Fábio Máximo, por Plutarco

O paralelo entre as trajetórias de Péricles e Fábio Máximo traçado por Plutarco é válido quando consideramos os papéis que ambos assumiram perante seus povos. Contudo, as origens e personalidade de um e outro são pouco compatíveis.

Péricles é de linhagem nobre: "era da tribo acamântida, do demo de Colarges, de uma casa e de uma família ilustre tanto pelo lado paterno quanto materno." recebeu refinada educação: aprendeu música com Damão (ou Pitóclides, segundo Aristóteles); acompanhou cursos de Zenão de Eléia e teve como principal mestre Anaxágoras, filósofo pré-socrático que "lhe comunicou altivez e a gravidade tão pesadas para o chefe de uma democracia; que, numa palavra, elevou e exaltou a dignidade de seu caráter".
Péricles e sua cabeçorra
Fábio Máximo tem origem menos pomposa que Péricles: "Diz-se que uma ninfa, após deitar com Héracles à margem do Tibre, deu ao mundo Fábio…". Além disso, aparentemente não teve instrução de sábios conhecidos, pois priorizou o exercício físico, preparando o corpo para torná-lo uma arma militar natural. Mas também praticou a arte da palavra como instrumento de persuasão inteiramente adaptado a sua maneira de viver. Porém, isso não significa que seu modo de falar era rebuscado como o de Péricles: "Não havia em seu discurso nem ornamentos trabalhados nem graças vazias, nada que evocasse a eloquência judiciária: em sua boca, a razão assumia um tom muito particular e uma profundeza notável"Já Péricles era visto por muitos como uma pessoa esnobe em sua forma de expressar-se verbalmente: "O Poeta Ião afirma que Péricles, em sociedade, era arrogante e soberbo, misturando-se-lhe ao ar pomposo muito de desdém e desprezo pelos outros."
Fábio Máximo pronto pra uma partida de quadribol
Tendo em vista estas divergências de origem e personalidade, que são marcantes, poderíamos julgar pouco razoável a comparação feita por Plutarco. Entretanto, ambos foram grandes líderes amados por seus povos e vencedores de muitas batalhas, mesmo que em contextos inteiramente diferentes. Já que Péricles assumiu uma Atenas rica e próspera, ao passo que Fábio Máximo esteve à frente de Roma em um período de muitas dificuldades.

domingo, 19 de maio de 2013

Relatório de visita ao Studio Clio

- Data da Visita -
4 de maio de 2013.

- Dados do Espaço -
Nome: Studio Clio Instituto de Arte & Humanismo
Endereço: Rua José do Patrocínio, 698, Cidade Baixa, Porto Alegre/RS
Tipo de instituição: Segundo Francisco Marshall, curador cultural do instituto, não há um termo formal que define o tipo de instituição no qual o StudioClio se enquadra, apesar de alguns confundirem com uma casa do saber. No site da instituição o lugar é referenciado como "espaço para experiências de conhecimento e imaginação".

- Estrutura Física -
O instituto fica em um prédio construído em 1924 e reformado em 2004/2005. A construção dispõe de auditório, café, mezanino e microgaleria.

- Pessoal -
Atualmente a equipe responsável pelo funcionamento do instituto é composta da seguinte forma:

Curador cultural - Francisco Marshall
Curador adjunto - Tiago Halewicz
Sócio-gerente - Otávio Marshall
Atendimento - Bruno Lentz e Natasha Piva
Segurança - Davi da Silva Rodrigues
Contra-regra - Mateus Vieira
Assessoria de comunicação - Núcleo Hermes de Comunicação
Designer gráfico - Victoria Campello
Produção - Fátima Costa

- Atividades desenvolvidas -
O instituto propõe atividades transdisciplinares que abordam diferentes conteúdos da história cultural e universal. Sua programação integra a arqueologia, as artes visuais, o cinema, a dramaturgia, a filosofia, a gastronomia, a história, a literatura, a moda e a música, dentre outros campos científicos, em atividades expressas de diversas formas.

- Profissional que guiou a visita -
Francisco Marshall, curador cultural do instituto. Responsável pela concepção da programação científica e cultural. Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1996), Francisco Marshall realizou pós-doutorado na Princeton University (NJ, EUA, 1998), como bolsista Capes-Fulbright, convidado de Peter Brown, e na Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg (Alemanha, 2008-9), como bolsista da Fundação Alexander von Humboldt. É professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando no Depto. e PPG História (IFCH) e no PPG Artes Visuais (IA). Tem experiência nas áreas de História e de Arqueologia Clássica, com ênfase em História Antiga e Medieval, atuando principalmente em história antiga, arqueologia clássica, museologia, iconologia, estudos do imaginário e história da cultura.

- Assuntos abordados pelo profissional -
Francisco Marshall falou sobre a história e formação do StudioClio, fundado em 20 de setembro de 2005 por seu irmão e ele, com capital majoritariamente advindo de herança deixada pelo avô (cerca de 1 milhão e meio de dólares). 

Segundo Marshall, o instituto desempenha o papel de um "fármaco intelectual cultural pós-freudiano", com a pretensão de ser um espaço que que é "tudo ao mesmo tempo", integrando atividades transdisciplinares de arte e humanísticas, em diversas formas de expressão. "Único lugar assim no mundo". Para ele, a transdisciplinaridade é uma maneira de curar a fragmentação da vida contemporânea.

Marshall destacou que um dos papéis do instituto é pensar na memória cultural e representá-la de modo estético, a fim de criar indexadores culturais nos indivíduos, de forma didática. Para isso, o studio conta com um auditório multimodal com infraestrutura de cinema digital, onde são apresentadas apenas imagens em altíssima resolução e bem contextualizadas. Este auditório também pode tornar-se uma sala de concertos, uma sala de banquetes, uma sala de aula com recursos audiovisuais ou um clube de jazz ideal para instrumentos acústicos.

- Fontes -
Anotações feitas durante a visita;
Site do Studio Clio: http://www.studioclio.com.br/
Currículo Lattes do profissional que guiou a visita: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4763606A0
Acessados em 19 de maio de 2013.

terça-feira, 14 de maio de 2013

As Troianas

Hécuba e Andrômaca são troianas sobreviventes da guerra de Troia contra os gregos, que pilharam a cidade e mataram os homens que em vão tentaram a defender. Hécuba é esposa de Príamo, mãe de Polixena, Cassandra e Heitor que, em vida, era casado com Andrômaca.

Cassandra, filha de Hécuba
A história criada por Eurípedes acontece nos limites da cidade destruída de Troia, ao final da guerra. Hécuba e Andrômaca estão passando por profunda tristeza: Como se não bastasse o luto causado pela morte de seus amados (Polixena e Heitor), as troianas estão sendo vendidas como escravas, servas e concubinas para senhores gregos, vitoriosos na guerra.

Hécuba é uma mulher em idade mais avançada que Andrômaca e, aparentemente, esta maior experiência é traduzida em um pouco de lucidez mesmo em meio a tantas lamentações:
"Isto já não é mais Troia, nem somos a família real de Troia. A fortuna varia; sê brava. Navega com a corrente, navega com o vento do destino. Não enfrentes com o navio da vida os vagalhões do infortúnio. Ah! Eu choro. E por que não poderei chorar em minha desgraça? Perdi minha pátria, meus filhos, meu marido. Ó nobreza, com o teu orgulho espezinhado, nada queres dizer, afinal de contas."
Podemos observar que Hécuba, mesmo sofrendo com as desgraças que a aflige, ainda consegue manter algum poder de discernimento, revelando até uma espécie de otimismo. Enquanto Andrômaca, ainda muito apegada ao finado esposo ("...se eu esquecer de meu querido Heitor e abrir meu coração ao meu senhor atual, perecerei trair os mortos.") e a seus valores morais, que a tiram quaisquer perspectivas pessoais de voltar a ter uma vida "normal" ("...abomino a mulher que se casa de novo e se esquece de seu primeiro marido nos braços do segundo.).

Nestes diferentes modos de lidar com o infortúnio reside a grande diferença entre as duas. Para Andrômaca, a desgraça é tão definitiva que não há mais motivos para continuar vivendo, enquanto Hécuba ainda alimenta  alguma confiança, como podemos observar em um trecho de um de seus diálogos:
ANDRÔMACA: Ela (Polixena) morreu como morreu. E, no entanto, na morte é mais feliz do que eu, que vivo.
HÉCUBA: A morte e a vida não são a mesma coisa, minha filha. A morte é o nada; na vida há esperança.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A mudança de fortuna de Creso, relatada por Heródoto

De acordo com os relatos de Heródoto, Creso, rei da Lídia, vive uma profunda mudança de fortuna durante sua vida. Inicialmente ele está em seu apogeu, gozando de enormes riquezas em ouro e prata. Com um filho jovem que demonstra habilidades que estão acima das demonstradas por outros homens de sua idade. Além de boas relações com outras regiões, sobretudo Delfos.
Creso (Claude Vignon, 1629)
Contudo, ao final da narrativa, Creso é despojado de suas riquezas e exército ao ser derrotado em batalha contra a Pérsia, liderada por Ciro, que passa a dominar a Lídia. Além disso, Creso também perde seu filho Átis, citado anteriormente. Após estes episódios trágicos, Creso quase é queimado na fogueira por Ciro, que acaba demonstrando compaixão e clama a Apolo que apague o fogo. O pedido é atendido e Creso sobrevive, servindo a Ciro como conselheiro a partir de então.

Para Heródoto, a mudança de fortuna de Creso se deve às sucessivas interpretações arrogantes que ele fez de predições de Apolo. O deus disse-lhe que se fizesse guerra aos Persas, um gande império seria destruído. No entanto Creso não o questionou novamente a fim de saber qual império estava sendo referido e travou guerra contra Ciro, sendo derrotado.