terça-feira, 8 de outubro de 2013

Questão sobre o Discurso do Método, de René Descartes

No Discurso do Método Descartes, em busca do método ideal, selecionou, a certa altura, apenas quatro preceitos de Lógica. Quais são eles? Em que medida você acha que podem ser relacionados a uma "perspectiva racional sobre o mundo"? Justifique sua resposta com algumas ideias extraídas do texto. 

Descartes escolheu os seguintes preceitos lógicos para seu método:
  1. Nunca aceitar coisa alguma como verdadeira sem que a conhecesse evidentemente como tal; ou seja, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e não incluir em meus juízos nada além daquilo que se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.
  2. Dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas parcelas quantas fosse possível e necessário para melhor resolvê-las.
  3. Conduzir por ordem os pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos; e supondo certa ordem mesmo entre aqueles que não se precedem naturalmente uns aos outros.
  4. Fazer em tudo enumerações tão completas, e revisões tão gerais, que se tenha certeza de nada omitir.
Os preceitos estão fortemente ligados a uma visão racional sobre o mundo, uma vez que Descartes acredita que apenas pela razão é possível obter verdades sobre todas as coisas a fim de aumentar seu conhecimento de forma consistente. Por isso, ele extraiu tais preceitos da lógica, da geometria e da álgebra.
René Descartes
É interessante observar que Descartes constrói as ideias que o ajudam a eleger tais preceitos para seu método com base em observações que o levam a duvidar de conceitos e opiniões comuns existentes quando os mesmos não são sustentados por provas univocamente verificáveis. Como é possível interpretar em trechos como o seguinte:
"Pois parecia-me que poderia encontrar muito mais verdade nos raciocínios que cada qual faz sobre os assuntos que lhe dizem respeito, e cujo desfecho deve puni-lo logo depois, se julgou mal, do que naqueles que um homem de letras faz em seu gabinete, sobre especulações que não produzem nenhum efeito, e que não terão outra consequência a não ser, talvez, a de que extrairá delas tanto mais vaidade quanto mais afastadas estiverem do senso comum, pelo fato de ter tido de empregar tanto mais espírito e artifício para torná-las verossímeis."
Além disso, Descartes também relata que mesmo tendo olhado para outras ciências cultivadas por "excelentes espíritos", não encontrou o que buscava:
"Nada direi da filosofia, a não ser que, vendo que foi cultivada pelos mais excelentes espíritos que viveram desde há vários séculos, e que, não obstante, nela não se encontra coisa alguma sobre a qual não se discuta e, por conseguinte, não seja duvidosa, eu não tinha tanta presunção para esperar me sair melhor do que os outros; e que, considerando quantas opiniões diversas pode haver sobre uma mesma matéria, todas sustentadas por pessoas doutas, sem que jamais possa haver mais de uma que seja verdadeira, eu reputava quase como falso tudo o que era apenas verossímil."
Entre esses [pensamentos], um dos primeiros foi a consideração de que frequentemente não há tanta perfeição nas obras compostas de várias peças, e feitas pelas mãos de vários mestres, como naquelas em que apenas um trabalhou.

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