terça-feira, 11 de junho de 2013

Confissões de Agostinho de Hipona

Em Confissões, Agostinho de Hipona se dirige a Deus de forma penitente, lamentando-se por pensamentos e práticas incompatíveis com os ensinamentos cristãos que ele havia praticado quando jovem. No início, o santo fala com arrependimento sobre as libertinagens de sua adolescência. O futuro patriarca da Igreja era afeiçoado aos prazeres carnais:
"Era para mim mais doce amar e ser amado, se podia gozar do corpo da pessoa amada. Deste modo, manchava com torpe concupiscência aquela fonte de amizade."

Além do sexo ser central para um relacionamento amoroso, para Agostinho, tais interações também estavam inexoravelmente ligadas a sentimentos negativos, as "esbraseantes varas do ciúme, das suspeitas, dos temores, dos ódios e das contendas".

Outra de suas falhas é o prazer dramático, manifestado através de compaixão como espectador de peças teatrais onde os personagens passavam por infortúnios na vida. Para Agostinho, a demonstração de tal compaixão era sinal de prazer e satisfação em testemunhar a desgraça alheia, ou até o desejo subconsciente de que tais infelicidades também o acometessem.
"Mas eu, miserável, gostava então de me condoer, e buscava motivos de dor. Só me agradava e me atraía com veemência a ação do ator quando, num infortúnio alheio, fictício e cômico, me borbulhavam nos olhos as lágrimas. Que admira pois que eu, infeliz ovelha desgarrada do vosso rebanho e renitente à vossa guarda, me afeiasse com ronha hedionda?"
Por fim, antes de começar a relatar sua aproximação de Deus, Agostinho revela seus estudos de retórica quando na idade de 19 anos, prática condenada por ele, classificada como uma espécie de "arte da mentira". Naturalmente, ele sente-se mal por um dia ter se orgulhado pelo fato de nessa época estar em um círculo social onde a retórica era um distintivo de elegância.
"Os estudos a que me entregava, e que se apelidavam de honestos, davam entrada para o foro dos litígios, onde me deveria distinguir tanto mais honrosamente quanto mais hábil fosse a mentira. Quão grande é a cegueira dos homens que até da cegueira se gloriam ! Já naquele tempo era o primeiro da escola de retórica, coisa que me alegrava soberbamente e me fazia inchar de vaidade."

Nenhum comentário:

Postar um comentário