quinta-feira, 25 de abril de 2013

VOCÊ ESTÁ AQUI

Semana passada, como atividade proposta para disciplina de Fundamentos das Artes Visuais, ministrada pela Professora Elida Tessler, visitei pela primeira vez o Estúdio Galeria Mamute, surpreendentemente a umas duas quadras da minha casa, no centro de Porto Alegre.
Lá estava em exposição uma mostra de Daniel Escobar: "você está aqui". Com curadoria de Bernardo José de Souza.

Ao chegar fui muito bem recebido pela diretora do estúdio, Niura Borges. Simpática e atenciosa, contou um pouco sobre a história do lugar, que já funciona neste local há cerca de 2 anos, promovendo exposições de arte, mostras audiovisuais, cursos, palestras, intercâmbios e residência artística. Feito isso, tivemos uma breve conversa sobre a mostra ali exposta antes dela se retirar rumo ao escritório situado aos fundos da galeria.

- A mostra -

A disposição e tamanho das salas do estúdio, bem como o fato das mesmas estarem em um prédio antigo (aqueles do centro com arquitetura portuguesa do fim do século XIX, início do XX) tornam o ambiente aconchegante e proporciona contato próximo com as obras. Lá estavam acomodadas as 5 que integram a mostra.

A primeira obra que observei chama-se "Permeável XXV (Perto Demais)". Trata-se de um cartaz composto por diversas camadas resultantes da colagem e sobreposição de fragmentos de outdoors doados por empresas colaboradoras, que recebem a interferência de pequenos furos, produzidos com um perfurador de escritório. Vi representado nesse quadro uma síntese do aglomerado de informações visuais que recebemos passivamente todos os dias no espaço urbano. Também acho que a "permeabilidade" que os furos atribuíram à imagem (ou às imagens) remete à efemeridade de tais informações, ao mesmo tempo que confere um tom misterioso à informação resultante da soma das demais.
Permeável XXV (Perto Demais), 2012. Foto: Márcio Oliveira
Próxima à Permeável XXV, estava a "Scrollbar", composta por fitas adesivas sobre uma das paredes da sala. A imagem é o resultado direto de uma projeção do entorno do centro de Porto Alegre obtido no Google Maps. Me chamou a atenção o detalhe da fita vermelha, posicionada no ponto do mapa onde está o estúdio, como se estivesse me passando a mensagem que sempre procuramos em um mapa quando estamos perdidos: "Você está aqui". 
Scrollbar, 2013. Foto: Márcio Oliveira
A transição da primeira para a segunda sala é guiada por uma parte da instalação que compõe a terceira obra: "Continuous". Composta por tiras de papel branco que saem de máquinas fragmentadoras de ferro alimentadas por bobinas. No centro, as tiras vindas de diferentes direções formam um entrelaçado de linhas horizontais, verticais e diagonais que remontam as vias urbanas da parte planejada da cidade de Belo Horizonte. A exatidão e simetria das ruas bem construídas entra em contraste com a confusão das tiras de papel que as dão origem. O próximo passo seria transferir a rigidez arquitetônica do centro para as tortuosas vias periféricas ou inserir uma dose de "caos" na parte planejada?
Continuous, 2012. Foto: Márcio Oliveira
Em uma das paredes vizinhas à obra "Continuous" estavam 3 quadrinhos que formam o "Atlas de Anatomia Urbana". Mais uma vez inspirado em Belo Horizonte, estão expostos guias turísticos da cidade, com recortes que davam um caráter de escultura aos livros a partir de uma "excavação" das páginas. O resultado imediato é a revelação dos cruzamentos entre os mapas das diferentes regiões da capital mineira.
Atlas de Anatomia Urbana, 2012. Foto: Márcio Oliveira
Por último, em um quartinho no fim da galeria, intencionalmente mal iluminado, estava exposta sobre uma mesa a obra "The World". Uma série de guias turísticos de diversos países (França, Inglaterra, México, Italia, Cuba, Mongolia e EUA) abertos sobre uma mesa de madeira. A colagem de imagens retiradas dos próprios guias de forma vertical sobre eles deram um efeito muito legal. Um novo conceito em guias turísticos, tipo aqueles livros pop-up.
Guia turístico da Itália. The World, 2011. Foto: Márcio Oliveira
Guia turístico de Pequim. The World, 2011. Foto: Márcio Oliveira
Ao me despedir da mostra, da Niura e da galeria, concluí que uma das mensagens que a mostra transmite é: Você está aqui. Aqui no centro de Porto Alegre, no espaço urbano, na cidade, no mundo, dinâmico, vivo, movediço, em constante evolução e que merece ser explorado.

Como proposto pela Professora Elida, segue minha pergunta para o Daniel Escobar: Daniel, percebi uma sequência lógica dada pela ordem de apresentação das obras: Porto Alegre (o lar de origem), Belo Horizonte (mudança para cidade maior e distante de casa) e mundo (estágio mais avançado desta libertação e desprendimento). O quarto que representa o mundo ainda é pequeno e mal iluminado (um ambiente até um pouco onírico). Algum dia pretendes fazer o caminho inverso, em ordem e tamanho?

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