terça-feira, 14 de maio de 2013

As Troianas

Hécuba e Andrômaca são troianas sobreviventes da guerra de Troia contra os gregos, que pilharam a cidade e mataram os homens que em vão tentaram a defender. Hécuba é esposa de Príamo, mãe de Polixena, Cassandra e Heitor que, em vida, era casado com Andrômaca.

Cassandra, filha de Hécuba
A história criada por Eurípedes acontece nos limites da cidade destruída de Troia, ao final da guerra. Hécuba e Andrômaca estão passando por profunda tristeza: Como se não bastasse o luto causado pela morte de seus amados (Polixena e Heitor), as troianas estão sendo vendidas como escravas, servas e concubinas para senhores gregos, vitoriosos na guerra.

Hécuba é uma mulher em idade mais avançada que Andrômaca e, aparentemente, esta maior experiência é traduzida em um pouco de lucidez mesmo em meio a tantas lamentações:
"Isto já não é mais Troia, nem somos a família real de Troia. A fortuna varia; sê brava. Navega com a corrente, navega com o vento do destino. Não enfrentes com o navio da vida os vagalhões do infortúnio. Ah! Eu choro. E por que não poderei chorar em minha desgraça? Perdi minha pátria, meus filhos, meu marido. Ó nobreza, com o teu orgulho espezinhado, nada queres dizer, afinal de contas."
Podemos observar que Hécuba, mesmo sofrendo com as desgraças que a aflige, ainda consegue manter algum poder de discernimento, revelando até uma espécie de otimismo. Enquanto Andrômaca, ainda muito apegada ao finado esposo ("...se eu esquecer de meu querido Heitor e abrir meu coração ao meu senhor atual, perecerei trair os mortos.") e a seus valores morais, que a tiram quaisquer perspectivas pessoais de voltar a ter uma vida "normal" ("...abomino a mulher que se casa de novo e se esquece de seu primeiro marido nos braços do segundo.).

Nestes diferentes modos de lidar com o infortúnio reside a grande diferença entre as duas. Para Andrômaca, a desgraça é tão definitiva que não há mais motivos para continuar vivendo, enquanto Hécuba ainda alimenta  alguma confiança, como podemos observar em um trecho de um de seus diálogos:
ANDRÔMACA: Ela (Polixena) morreu como morreu. E, no entanto, na morte é mais feliz do que eu, que vivo.
HÉCUBA: A morte e a vida não são a mesma coisa, minha filha. A morte é o nada; na vida há esperança.

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